segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Mirante sem Montanhas: Parte7

Acontecia a primeira eleição para prefeito e vereadores de Cabrália Paulista. O candidato majoritário Francisco Bueno dos Reis venceu nas urnas o candidato José Benedito Dias da Cruz, ao qual quero ressaltar também como um grande municipalista. Francisco Bueno dos Reis (que na verdade, em sua certidão de nascimento era Francisco Bueno apenas, pois o sobrenome “dos Reis” veio depois) assumia o primeiro mandato de prefeito do município. Ele era homem de confiança dos grandes empresários e compradores de algodão e café (família “dos Reis”). A família fez questão de adicionar o sobrenome na pessoa de confiança para representá-los no mundo dos negócios.
FOTO: Prédio da Prefeitura e Câmara municipal de Cabrália Paulista nas duas primeiras gestões. Para o povo, tudo era novidade e motivo de festa.

Naquela época não existia ainda o cargo de vice-prefeito, em caso especial, o presidente da Câmara assumia como prefeito. A Câmara de vereadores era composta de 13 cadeiras, que foram dificílimas de completar, pois na época não existia o subsídio financeiro e bem poucos aceitavam o desafio. Foram eles, com mandato de 23/03/1949 a 26/03/1953:

- Aracy da Costa Manhães uisoli;
- Arthur de Salles Guerra;
- Benedito de Almeida Teixeira;
- Benedito Martins do Nascimento;
- João Giacomini;
- Joaquim dos Santos Camponês;
- José Vanzo (que foi presidente durante toda a legislatura);
- Lupércio Zanini;
- Matheus Riga de Oliveira;
- Pedro Portaluppi;
- Santo João Batista Mazieiro;
- Severino Coquemala;
- Vitório Garbulio.

FOTO: Cabrália recebe a visita de autoridades na Câmara Municipal. Sentado de branco ao centro, o vereador Matheus Riga de Oliveira.


A prefeitura e câmara de vereadores eram na época, onde hoje fica o Supermercado Bom Jesus, na esquina entre as ruas Mário Amaral Gurgel e Astor de Mattos Carvalho. Era grande o desafio dos recém eleitos. Cabrália não tinha asfalto, guias, sarjetas, não tinha água encanada e nem rede de esgoto. As voçorocas pareciam engolir as ruas e as precárias estradas rurais do município. O trem era o veículo de transporte principal, tanto para carga quanto para passageiros. O prefeito Francisco Bueno dos Reis, juntamente com o vereador e ex-soldado constitucionalista, Severino Coquemala, conseguiram adquirir uma maquina moto niveladora de um modelo sem a cobertura para o motorista, o qual foi me foi relatado que a trouxeram de lá (capital do Estado) rodando até Cabrália. A máquina foi usada por muito tempo para dar controle às voçorocas e foi a “salvação da lavoura” para nossos habitantes da zona rural.

Outra grande conquista do governo Francisco Bueno dos Reis foi conseguir recursos para dar início às obras da Escola Senador Rodolfo Miranda, obra que só seria concluída no mandato seguinte.

Foi também no governo Francisco Bueno dos Reis que assumiu a Paróquia do Senhor Bom Jesus o padre Caio, que teve a idéia de elaborar as quermesses. Padre Caio, apesar do pouco tempo em que ficou em Cabrália, foi marcante por contratar inúmeros shows, com artistas famosos, reunindo multidões. Os trens, segundo consta, chegavam a esgotar as passagens em dias de shows, de tanta gente que vinha de cidades vizinhas, Sua saída da paróquia foi cheia de mistérios, já que os eventos envolviam cifras elevadas.

FOTO: Francisco Bueno dos Reis (primeiro à direita ao centro) toma posse como prefeito de Cabrália Paulista. Também em pé (primeiro à esquerda ao centro), está o vereador Benedito de Almeida Teixeira, que depois seria eleito vice prefeito e por consequência prefeito.


Certamente o episódio que aconteceria na segunda metade do governo de Francisco Bueno dos Reis e que até hoje surgem várias versões e muitas delas destorcidas nas conversas populares em nossa cidade, chamará atenção nesta parte da narrativa.

Existia uma grande fábrica de cerveja realizando estudos na região para, após análise geral, se instalar em uma das cidades. Um dos acionistas da cervejaria, que vou chamar de A. dos Reis, era cabraliense de coração, conhecia bem o prefeito, os vereadores e uma das maiores riquezas que Cabrália sempre teve... a água. Ele convenceu os diretores da empresa a visitar Cabrália e fazer análises de sua água. O resultado apontou que a matéria-prima (água) era de qualidade excelente.

Cabrália, naquela época, principalmente em áreas que se aproximavam dos rios e córregos, era comum encontrar minas d’água, ou seja, fervedouros d’água (água brotando da terra em local fixo e permanente), coisa que me relataram ter “enchido os olhos” dos diretores da cervejaria. Infelizmente a erosão e o desmatamento contínuo, em parceria com a formação arenosa do nosso solo, reduziu de maneira significativa o número de nossas minas. Com o assoreamento do local, a mina sufocada tende a se esparramar aparecendo em local sempre em nível menor e de maneira que os especialistas no assunto chamam de “água chorada”.

A população estava otimista e ansiosa com a possibilidade de uma cervejaria se instalar no município e ver Cabrália Paulista prosperar. Era o desejo de todos.
O personagem de nossa história também estava otimista; ficou sabendo que próximo da igreja matriz havia um senhor vendendo uma padaria com prédio e tudo. Há muito tempo ele queria entrar com a família no ramo do comércio e além do mais sabia que sua esposa sempre sonhou em morar perto da igreja. Estava super interessado em efetuar a compra. Porém, existia um probleminha: não tinha um tostão. Pegou uma carroça e partiu para um sítio na região do Bairro Floresta. Chegando lá, contou ao seu amigo (dono do sítio) o seu desejo de adquirir o imóvel. Combinaram o juro anual e o proprietário do sítio lhe deu carta branca para fechar o negócio.

Estávamos vivendo em uma época em que o sistema bancário era pouco difundido. Era comum quando alguém tinha dinheiro, dar a juros a outra pessoa de confiança, principalmente para adquirir imóvel, sendo que se alguma coisa no negócio desse errado, o capital adquirido seria a garantia do credor. Era época do fio do bigode, do Smith & Wesson, do Colt Cavalinho, do H.O.

Era época de menos socialismo e mais trabalho. Tempo em que golpista ia para a cadeia e nome sujo não se prescrevia após cinco anos.

A própria cultura popular e legislação sobre assuntos de ordem financeira, naquela época eram muito mais severos.

O sol já se avermelhava no horizonte quando o recém comerciante chegou a sua casa que ficava bem elevada do nível da rua. “Vai arrumando as coisas, mulher. Comprei a padaria e vamos mudar para lá! - Comprou com que dinheiro, perguntou. – Quem tem crédito tem dinheiro”!, respondeu sorrindo o novo comerciante.

6 comentários:

  1. Lendo e relendo os artigos e mergulho nos tempos.
    Nada melhor do que as fotos para essa projeção nos tempos.

    Muito bom. Continue escrevendo sobre esses tempos.
    Abraços
    Arzélio

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  2. Olá
    Gostei muito dos artigos. Ele me conduziu nos tempos.
    As fotos legitimaram essa projeção.
    Parabens. Continue escrevendo sobre os Tempos de Cabrália
    Abraços
    Arzélio

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  3. Paulo Bueno dos Reis16 junho, 2011

    Lembranças de Cabrália. Passado saudável e alegre. Orgulho de meu avô.
    Paulinho Bueno dos Reis

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  4. Oi...tudo bem . Meu nome é Walter Luiz Chiusoli Junior, tenho 47 anos, nasci em Dois Córregos e fui muito bebê para cidade de Osvaldo Cruz, onde vivi até meus 30 anos. Hoje moro no Paraná, na cidade de Quatiguá.
    Estava verificando e percebi que o nome de minha avó está errado. O certo é: Aracy da Costa Manhães Chiusoli; - ORGULHO. Por acaso vcs não tem fotos dos vereadores da época incluindo minha avó Aracy é lógico... abraços

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  5. Olá !! Parabéns ao autor da matéria, sempre que posso acompanho as notícias de nossa
    querida Cabrália Paulista. Gostaria que se possivel seja publicado participações de meu pai ¨
    ¨JOÃO GIACOMINI", que sem dúvida contribuiu e muito com o desenvolvimento de nossa Cabrália. Grande abraço !! Orácio Giacomini - Duartina - SP

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  6. Sou neto da vereadora Aracy da Costa Manhães Chiusoli, citada na reportagem. Fico muito feliz em relembrar as comtribuições da minha família ao nosso País.
    Parabéns pela matéria.
    WILLIAM CHIUSOLI
    SOROCABA - SP

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