quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Mirante sem Montanhas: Parte Final

Era manhã ensolarada de domingo do dia 27 de novembro de 1977 quando o grupo de crianças cabralienses posou para uma foto após a missa na qual receberam a primeira eucaristia. Muitas águas passaram pelas barrancas do nosso querido Rio Alambari daquele dia até os atuais. O rio nem parece ser mais o mesmo sem suas curvas naturais e vazantes que formavam as lagoas, a água corre mais rápido, o tornando mais estreito e mais raso, devido também aos desmatamentos que provocaram seu assoreamento. Sem que percebessem, os rostinhos inocentes das crianças também foram mudando dia após dia. Cresceram e se tornaram moças e moços. FOTO: Crianças cabralienses que acabaram de receber a 1ª eucaristia no ano de 1977.

Muitos se casaram, tiveram filhos, mas ninguém se safou da força do tempo que transformou todos em homens e mulheres adultos, base da população economicamente ativa do município, estado e federação.

Não se deve entristecer quando o espelho começa a mostrar as primeiras rugas e fios de cabelos brancos. É à custa dessas conseqüências que vivemos. Estávamos no primeiro ano de gestão de José Madrigal Ruda, que iria de 01/01/1977 à 31/12/1982. A vicinal que liga Cabrália à Rodovia SP 225 estava sendo pavimentada e no período dessa administração seria construída a atual Rodovia pavimentada que liga Cabrália à Duartina. Cabrália teria seu primeiro bairro urbano com a construção pelo Programa Estadual “Nosso Teto”, do Núcleo Habitacional Antonia Orlato Madrigal I. Parte da Rua Francisco Bueno dos Reis também receberia pavimentação e iluminação do canteiro central.

A gestão de Nelson Gebara, de 01/01/1983 a 31/12/1988, surpreenderia muita gente pelo grande número de obras realizadas: construção do prédio da Prefeitura e Câmara, calçadão e piscina pública que, futuramente receberia a denominação de Centro Poliesportivo João de Oliveira (Juca) e algumas vias públicas receberiam pavimentação. O cerrado à direita do caminho do cemitério daria lugar ao Jardim Nova Mirante, com construção e loteamento realizados por empresa privada. Atraídas por quantidade de reflorestamento, o que propiciava fartura de madeira na região, as indústrias do setor foram se instalando no município, gerando grande número de mão-de-obra e colocando Cabrália como referência no seguimento madeireiro.

José Madrigal Ruda volta à prefeitura para seu segundo mandato, de 01/01/1989 à 31/12/1992. Surge o maior núcleo habitacional de Cabrália , obra realizada pela CDHU (Cabrália A), denominado Antônia Orlato Madrigal II. Parte da estrada vicinal que liga Cabrália à Floresta é pavimentada. Muitas ruas de Cabrália também recebem pavimento, mas necessitariam de grandes reparos nas próximas administrações.

Luis Lourenço Filho, com mandato de 01/01/1993 a 31/12/1996, toma posse como prefeito, melhora a remuneração dos servidores públicos municipais e cria o Departamento de Assistência Social. Investe nas estradas rurais e as melhora significativamente. Através do deputado federal José Habraão (ex-morador de Cabrália), firma convênio para construção do Núcleo Habitar Brasil. A partir da segunda metade da administração passaria por turbulências em um governo marcado por desarmonia entre o executivo e o legislativo, além de denúncias de irregularidades.

Wilson Antonio Vicentini toma posse em 01/01/1997, com mandato até 31/12/2000. Constrói o Núcleo Habitacional Habitar Brasil, priorizando o assentamento dos moradores da Colônia Fepasa e do Conjunto de casas de madeira, de frente à Rua dos Ferroviários, que é demolido. O Ginásio de Esportes, no final da Rua Francisco Krall, é construído., porém, não é inaugurado por detalhes de acabamento. São realizadas obras de pavimentação e recapeamento em alguns bairros. Na área da educação constrói o prédio da EMEI Maria de Jesus Pereira Camponês. Teria um governo marcado por forte investimento na área social, mas com denúncias de irregularidades.

Nelson Gebara (01/01/2001 – 31/12/2004) volta a ocupar a cadeira maior do município quase 20 anos depois. Não consegue repetir o mesmo governo biônico que havia marcado o seu primeiro mandato. Cria o projeto que municipaliza a educação de ensino básico e investe em melhorias das condições de coleta de lixo. Terceiriza o abastecimento de água e esgoto, tomando assim uma medida impopular, mas necessária devido aos maus costumes da época.

Jacintho Zanoni Fillho vence a eleição que teve o maior número de concorrentes (6) em toda a história do município. Com mandato de 01/01/2005 à 31/12/2008, surpreende muita gente em um governo cheio de realizações e convênios muito importantes para a municipalidade, como a Estação de Tratamento de Esgoto (uma de suas maiores conquistas), constrói o Núcleo Habitacional Jacintho Zanoni (Cabrália B) em parceria com a CDHU e mutuários, reforma muitos locais públicos em péssimo estado, como o Mirante Club e o Estádio José Ghinelli, e termina a obra do Ginásio de Esportes na Rua Francisco Krall, que é inaugurado. Grande parte das vias públicas é pavimentada e recapeada. Na área da educação constrói o prédio da EMEF. É reeleito com mandato previsto para o período de 01/01/2009 à 31/12/2012. No país o regime militar deu lugar à democracia. A constituição de 1988 mudou os rumos e costumes da nação. O capitalismo perde espaço para os ideais socialistas e os partidos políticos de esquerda crescem.

Na economia o cruzeiro torna-se cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo e novamente cruzeiro. Criam a URV até a estabilização da moeda chamada real. Não seria fácil a adaptação da ciranda financeira de mega inflação, momentos de deflação e estabilidade recessiva. Potências econômicas sucumbiram, dando lugar aos emergentes. Outras religiões foram difundidas e cresceram, diminuindo a hegemonia católica. A tecnologia e o mundo digital mudaram os hábitos da população do planeta. Os índices de criminalidade aumentam juntamente com o narcotráfico.

A perda de valores familiares e a falta de paternidade se tornam fatores preocupantes. Assim como centenas de municípios de pequeno porte que se tornam a maioria, distribuídos pela federação, Cabrália Paulista se desenvolve lentamente. Meios de comunicação distintos e respeitados divulgaram recentemente o resultado de um estudo sobre economia, desenvolvimento urbano e futuro da humanidade. Segundos dados de pesquisas, o futuro da humanidade é urbano e a tendência é que a população se aglomere cada vez mais em grandes metrópoles. No Brasil a previsão é que capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, entre outras, tenham um crescimento populacional surpreendente nas próximas décadas, chegando a ficarem intransitáveis se medidas sérias não forem tomadas. O direito de ir e vir se tornaria inviável (seria parcialmente banido do cidadão). O estudo também apontou uma estabilidade econômica e demográfica para os pequenos municípios, como Cabrália. Obviamente que fatores isolados farão de alguns pequenos municípios brasileiros, raras exceções, sendo os dados estatísticos uma tendência e não uma uniformidade. O estudo apontou ainda que a renda per capita seria menor nas pequenas cidades, o que culmina com maior índice de pobreza.

Nos primeiros capítulos dessa história vimos que Cabrália foi projetada para ser cidade grande. O destino não quis. A qualidade de vida, ao invés da quantidade populacional certamente será o bem aventurado caminho dos pequenos municípios, à exemplo de Moisés em busca da terra prometida. A água potável se torna mais escassa a cada ano no planeta e se torna uma das maiores preocupações para o futuro da humanidade. Nossa região está sobre o Aquífero Guarani, o maior reservatório natural de água doce do mundo. Cabrália Paulista é um dos municípios onde o lençol do aqüífero se apresenta em menor profundidade. Por isso, a preservação de nossos recursos naturais deve ter um sentido maior perante outros fatores de menor relevância, afinal “a água viva ainda está na fonte”. Fica a grande incerteza, preocupação e desafio se as próximas gerações de cabralienses conseguirão se manter no município onde, apesar de todas as dificuldades, a maioria das crianças da geração anterior conseguiu. Esta coluna conseguiu contar parte de uma história com menos de 100 anos.

FOTO: Cristo redentor do principal trevo de entrada de Cabrália Paulista.

Considerando que existem países de cultura milenar e que o planeta terra também tem cerca de quatro bilhões e meio de anos, temos muito a caminhar. A mensagem que o narrador dessa história deixa ao povo de Cabrália, que são os verdadeiros autores dela (já que foi contada por eles), é a mesma estampada no pedestal do Cristo Redentor na entrada de nossa cidade: “Cristo, filho de Deus, seu olhar e sua benção sobre Cabrália, seu povo e visitantes”.


Os irmãos Garbulio, proprietários do Supermercado Vitória se aposentariam e venderiam a loja na próxima década. O caçula dos irmãos abriria um mercadinho na esquina diagonal com o Jardim Municipal e também se aposentaria em breve. Seu filho mais velho (que aparece como sanfoneirinho no capítulo 12 é também um dos meninos da primeira fila na foto da eucaristia), na época já maior de idade, resolve continuar com o negócio.


FOTO: Placa com mensagem fixada no pedestal do Cristo Redentor.

No ano de 1988 o mercadinho muda de endereço para a Rua Antonio Moreno Garrido Sobrinho, onde permanece até os dias atuais. Já se vão 24 anos somente da 3ª geração de comerciantes da família. No ano de 2010, a família Garbulio completou 60 anos distribuídos em três gerações de contato comercial direto, junto à Cabrália e seu povo. Ainda ficou muita história para contar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Mirante sem Montanhas: Parte 14

O prefeito Benedito de Almeida Teixeira conduzia com cautela a administração, restando apenas poucos meses para o término do mandato. Chegava então a época de uma sucessão democrática que seria acirrada entre as partes.

O candidato da oposição, representado por Osney Martins Sampaio (ARENA) e forte bancada legislativa se apresentava como favorito na disputa. Porém, o candidato que representava o partido da situação (MDB) era o respeitadíssimo político Zeca Pereira, que em uma arrancada fantástica nos últimos meses de campanha iguala a disputa em uma campanha cheia de denúncias de infidelidade partidária por parte dos vereadores que teoricamente representavam a oposição. Uma ocorrência muito triste ocorreria às vésperas do pleito eleitoral. O falecimento da mãe do candidato Zeca Pereira deixa toda Cabrália enlutada. Sua bondade e carisma transformaram-na numa pessoa querida por todos.

FOTO: Zeca Pereira e Toninho Ghinelli sendo diplomados prefeito (3º mandato) e vice respectivamente

No dia seguinte a população entristecida cumpre o dever cívico e elege Zeca Pereira para seu terceiro mandato como prefeito do município.


Seu irmão Antonio Geraldo Pereira, que era candidato a vereador tem votação recorde (ainda não quebrado até os dias atuais). O vice de Zeca Pereira nesta administração foi Domênico Antonio Ghinelli. No passado, nos tempos de Jânio e Ademar, teriam sido opositores. E a 7ª Legislatura do município, com o mandato de 01/01/1973 à 31/12/1976, ficou assim composta:
- Anízio Vilani;
- Antonio Geraldo Pereira;
- Antonio Vaz de Lima;
- Benedito Rocha;
- Carlos Teixeira;
- Flávio dos Santos Camponêz;
- Guido Aparecido Branco;
- Joaquim Rodrigues Andrade;
- Rubens Carlos Pimentel.

Neste pleito tivemos um fato inédito no que se diz respeito à eleição proporcional. Todos os cinco vereadores do Partido da ARENA foram eleitos e pelo coeficiente eleitoral somente um do MDB. Faltaram três cadeiras para completar o nº de vereadores e foi necessária a realização de outra eleição somente para vereador.
Em 7 de maio de 1975, o vereador Flávio dos Santos Camponês faleceria vítima de um trágico acidente de trânsito. Em seu lugar assumiria o suplente Alceu Ferreira.
Em seu terceiro mandato como prefeito de Cabrália, beneficiado pelo aumento da arrecadação devido às empresas que aqui se instalaram, Zeca Pereira consegue maior harmonia para as finanças, equilibrando receita e despesa em suas novas construções que se iniciavam.

O campo de futebol naquela época era totalmente aberto e de terra batida. Em sua volta existiam vários pés de eucaliptos que eram da mesma espécie e idade dos que tinham na estrada chamada “Caminho do Cemitério”, hoje chamada “Avenida da Saudade”. A prefeitura municipal constrói então toda a estrutura do novo estádio que receberia o nome de José Ghinelli. Sua arquibancada receberia a denominação de “Solar do Caneta”, em homenagem a Alcidez Alves Ferreira (Caneta), voluntário no esporte, músico, jogador e torcedor assíduo do velho campo de terra batida. Ainda na área esportiva, foi construída a Quadra Poliesportiva atrás do Mirante Clube, à qual foi dado o nome de Maria Cecília Pereira, irmã do prefeito, que também faleceu tragicamente em outro acidente de trânsito. No mesmo quarteirão, e na mesma época foram também construídas as laterais do Mirante Clube, que até então tinha apenas o seu “corpo central”. Através de convênio com o estado, foi construído também neste mandato o prédio do centro de saúde.

FOTO: Time do Guarani FC de Cabrália no campo de futebol antes do início das obras. (Em pé: Osvaldo, Benjamin, Mario Caneta, Dito Sacoman e Mané Duarte. Agachados: Nino, Alcides, Tulin, Juca, Cesar e Pelé)

A prefeitura realizava também a pavimentação das Ruas Antonio Consalter Longo e Joaquim dos Santos Camponês, e coloca paralelepípedos nas paralelas entre ambas. Pavimentaria também parte das ruas Astor de Mattos Carvalho, Seis de Agosto e Manoel Francisco, pavimentações que foram cobradas dos moradores.

Dava-se continuidade ao projeto já desenvolvido no segundo mandato de Zeca Pereira d constuções civis, onde muitas casas de alvenaria foram construídas, ajudando a vida de munícipes. Vivíamos em uma época que o êxodo rural estava acontecendo em grande quantidade e as casas de madeira da zona rural estavam ficando vazias, o que deixava o custo da construção dessas casas de madeira infinitamente inferior ao da alvenaria. O prefeito do município tem então a idéia de alargar uma vilela e denominá-la de Rua dos Ferroviários em justa homenagem a todos os ferroviários que ajudaram na colonização do município (sendo que estava previsto que a Ferrovia encerraria suas atividades em breve). No quarteirão em frente a esta rua o prefeito constrói um conjunto de casas de madeira para o assentamento de diversas famílias cabralienses. Foi um “prato cheio” para seus opositores, que apelidaram o local de “Vila dos porcos” e assim ficou popularmente conhecida. Porém, o conjunto de casas de madeira não serviria somente para denegrir a imagem política do grupo que as construiu, mas também como lar de diversas famílias que ali residiram por quase três décadas. A “Vila dos Porcos”, como ficou vulgarmente conhecida, foi extinta na segunda metade dos anos 90, com a criação do Conjunto Habitar Brasil Luis Lourenço Filho.

Entraremos agora em mais um momento triste de nossa história. A Ferrovia anuncia o final de suas atividades na região, fato que futuramente aconteceria em outras regiões, em âmbito nacional, mostrando assim sua inviabilidade.
Já estávamos no final do terceiro mandato de Zeca Pereira e o prefeito contrata uma banda musical do próprio município, que voluntariamente fazia shows no coreto do jardim, alegrando nosso povo nas noites de final de semana em última homenagem à ferrovia. Ao fim do som da banda musical e do barulho característico dos trens quando passam, o que fica é um silêncio preocupante, que poderia ser visto nos olhos de todos que ali estavam. Vivenciaram ali um verdadeiro divisor de águas para o futuro não somente de Cabrália, mas para todas as estações onde o trem passava.

A oposição culpou Zeca Pereira pelo fim da Ferrovia, alegando que a banda musical estaria ali para festejar e não para homenagear. O episódio da fábrica de cerveja, que já foi relatado em capítulos anteriores, na administração de Francisco Bueno dos Reis (no qual nenhum cabraliense teve culpa), seria novamente lembrado, mas com versão distorcida, culpando o grupo político de Zeca Pereira pelo acontecido. Uma mentira contada várias vezes, por diversas pessoas, se transformava em verdade.


Desta vez não se encerrava somente um mandato, terminava a era do domínio político de Zeca Pereira e consequentemente daqueles que o apoiavam. Iniciava-se a predominância política de José Madrigal Ruda e seus correligionários do forte grupo político que se formava nesta época (interrompido provisoriamente pelo mandato de 1993 a 1996, com a vitória do opositor Luis Lourenço Filho).

foto: "José Pascon Rocha"
FOTO: O último trem que passou pela estação de Cabrália deixou a população triste e preocupada.

O regime militar imperava no Brasil. No município novas formas de governo seriam implantadas. O regime capitalista prevalecia na América.

Outra medida infeliz por parte do estado prejudicaria os recursos naturais do município neste período transitório. Seria a presença da Draga (máquina de esteira própria para lugares alagados) para alinhamento e limpeza do Rio Alambarí, com o objetivo de diminuir a intensidade das enchentes e aumentar as áreas cultiváveis. Foi o mesmo que “acabar com o carrapato matando a vaca”. Para o nosso Rio Alambari (Pirajaí, o rio dos peixes cor de prata) foi um desastre ambiental. Ele nunca mais seria o mesmo. Seus poços profundos margeados por inúmeras lagoas, berçário de várias espécies, ficaram somente na memória daqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo.

O Supermercado Vitória, dos irmãos Garbulio, vivia o seu auge. Aliás, Vitória seria a melhor denominação que se poderia dar àquela casa de comércio de uma família cuja história vem sendo descrita desde os primeiros capítulos desta coluna. Há quase 30 anos no ramo do comércio na cidade, mal sabiam que a relação comercial da família com o povo cabraliense ainda não tinha atingido a metade de seu período.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Mirante sem Montanhas: Parte 13

Rompia outra primavera em Cabrália Paulista no ano de 1968 e muitos acreditavam que, se até o final do prazo para a realização das convenções partidárias municipais ninguém se apresentasse como candidato a prefeito, corria-se o risco de haver interdição do estado no município. Afinal, não existe cidade sem prefeito.

À custa de muita insistência por parte do partido que representava a situação no momento, o vice de Zeca, o senhor Antonio Moreno Garrido Sobrinho, aceita o desafio de se candidatar a prefeito do município. A oposição, por sua vez, não encontrou homem de tamanha coragem, sendo então Toninho Moreno o único candidato. Chegam as eleições e aparecem muitos votos brancos em protesto à crise financeira que assolava o município. Porém, a maioria absoluta aclama nas urnas o novo prefeito, que tinha como vice o senhor Benedito de Almeida Teixeira e a sexta legislatura, com mandato de 28/3/1969 a 31/12/1972, que ficou assim composta:

- Antonio Pimentel Filho;- Antonio Vaz de Lima;
- Francisco Krall;
- Domênico Antonio Ghinelli;
- Clóvis Magalhães de Mattos Carvalho;
- Hadeal Sing;
- José Lopes de Souza;
- José Soares Pereira;
- Nilton Portaluppi;
- Pedro Giacomini;


FOTO: O prefeito Antonio Moreno Garrido Sobrinho, durante a cerimônia simbólica de entrega das chaves.

Em menos de 90 dias de administração, o vereador Pedro Giacomini, por razões pessoais, renuncia ao mandato, assumindo sua vaga o suplente Antonio Geraldo Pereira. Em 8 de dezembro de 1971, o vereador José Lopes de Souza também renuncia e assume o suplente José Madrigal Ruda. O mandato turbulento, cheio de ocorrências e de renúncias de cadeiras legislativas, teria também um fim trágico no que diz respeito ao poder executivo.

O prefeito Toninho Moreno, como era chamado, após conseguir equilibrar as finanças do município, dá início à pavimentação da rua que futuramente receberia o seu nome. Mas não foi essa realização que marcaria o seu governo e sim a conquista daquilo que o município urgentemente precisava: a criação de emprego e renda.

FOTO: Maioria absoluta da 6ª legislatura do município. Da esquerda par a direita: Toninho Ghinelli, Nilton Portaluppi, Antônio Vaz de Lima, Zeca Pereira, Francisco Krall, Antonio Pimentel Filho “Badola” e José Madrigal Ruda.

A prefeitura, na época, realizava também uma obra de reforma e ampliação da Escola Técnica Agrícola, cujo diretor era um homem de descendência japonesa. Ele chama um dos funcionários da escola, o senhor Antonio Pimentel Filho, que também era vereador, e relata a ele que esteve em uma colônia japonesa, onde conheceu um empresário, que se mostrou interessado em expandir os negócios de ovicultura. A sede dos negócios estava instalada na cidade de Mogi das Cruzes. O empresário teria relatado que havia gostado muito da nossa região.

Então, o vereador procura o prefeito, que em seguida entra em contato com o diretor da empresa e o convida para uma visita ao município.
Durante a visita, o prefeito se dispõe a apoiar o empresário no que estivesse ao alcance do município. O empresário também mostra interesse em comprar uma área compatível com o seu empreendimento nos arredores do nosso perímetro urbano.

O vereador Antonio Vaz de Lima, que também trabalhava como corretor de imóveis, promete para o empresário que se empenharia em conseguir convencer o senhor Jorge Bez a vender sua propriedade e consegue ainda outro grande incentivo para a realização do negócio. Onde hoje fica a Fazenda Antonela era propriedade do senhor Merling Lowe, que se prontifica em doar alguns hectares da fazenda que fazia divisa com a área do senhor Jorge Bez, caso o negócio fosse concretizado para o bem de Cabrália. O vereador Vaz de Lima viaja a Mogi e marca uma data para um almoço na casa do prefeito de Cabrália com o proprietário da terra e o comprador. Do almoço, seguem para o cartório, para firmar o negócio. Dessa forma instalou-se no município a Granja Nagao (de Mário Nagao e outros), que a partir daí começou a contratar muitos funcionários, dando equilíbrio à economia de Cabrália. Em seguida, a Granja compra outra propriedade no município e, além da ovicultura, investe também na produção de frutas.

Com administração dos serviços na área agrícola do senhor Minoro Takeda, a Granja Nagao tranformava nossa arenosa terra para os padrões de cultivo e safras recordes que serviam de modelo na produção de frutas, atendendo mercados internos, em âmbito nacional, e externos.
Cabrália Paulista, seu povo e Granja Nagao... um bom encontro...talvez um dos melhores de nossa história.

Dizem que, para inaugurar Brasília, Juscelino Kubitschek exigiu dos setores competentes que grande parte da área rural que circundava a capital do país fosse ocupada por famílias de japoneses.
Certo dia, a colônia japonesa marcou audiência com o presidente da República e faz uma reclamação. “Excelentíssimo senhor Presidente da República, estamos felizes com a terra na qual fomos assentados...., mas a fertilidade é muito baixa, a terra é muito ruim”. E Juscelino responde: “Eu sei, por isso que eu preciso de japoneses”.
Os bons ventos sopravam a favor de Cabrália e seu povo. Em novos negócios de compra e venda, estimulados pela prefeitura e seu prefeito iluminado, empresas de reflorestamento iam-se instalando no município, gerando empregos e renda. A luz no fim do túnel brilhava em Cabrália.

Era final de julho de 1972. O prefeito de Cabrália teria de ir para São Paulo resolver alguns problemas ligados ao município e iria também visitar algumas secretarias em busca de novos convênios para a municipalidade. A creche de Cabrália havia ganhado uma cadeira de rodas e seus representantes aproveitam a carona juntamente com o prefeito e partem para a capital paulista.

Em um trevo da estrada, um ônibus corta a frente do carro que os conduzia. Acontece a colisão; algumas escoriações nos demais passageiros. Mas o prefeito de Cabrália....iluminado, que conseguiu para o nosso município o de que ele realmente precisava, morre tragicamente.

Em 26 de julho de 1972, o presidente da Câmara de Cabrália Paulista, senhor Nilton Portaluppi, usando de suas atribuições legais e amparado por legislação maior, declara então o vice-prefeito Benedito de Almeida Teixeira prefeito de Cabrália Paulista.

Benedito de Almeida Teixeira conduz o município com cautela, proporcionando-lhe uma tranqüila sucessão democrática, já que se aproximavam eleições municipais.

FOTO: Rua que futuramente receberia o nome do prefeito que a pavimentou.

Economicamente, era outra Cabrália! A Granja Nagao e as empresas de reflorestamento, somadas à corrida ruralista ao bicho da seda difundido na região faziam com que os horizontes de otimismo prevalecessem na aura do município.

O comércio de Cabrália daí por diante passaria a ter vida. A sofrida família de comerciantes acreditava ter encontrado o caminho para o sucesso. Loja cheia, coisa rara de se ver anteriormente, agora se via com frequência, mas o comércio é traiçoeiro: nem sempre loja cheia é sinônimo de loja lucrativa. O bom coração permitiu que um demônio chamado “fiado” dominasse o capital de giro do armazém. Levantamentos realizados na época mostravam a inviabilidade do negócio. Os irmãos Garbulio decidem então fazer uma mudança nos rumos da atividade.

Em Bauru já existia um tipo de comércio sem balcão de atendimento. O cliente se servia, colocando as mercadorias dentro de um carrinho e, no final da compra, passava pelo caixa. Foi seguindo esse modelo de comércio que inauguraram o Supermercado Vitória, com pagamento somente a vista. Foi negociado com os clientes para que continuassem comprando no estabelecimento e que as pendências anteriores fossem saldadas, acrescentando-as no valor das novas compras. Menos de 20% do valor total das pendências, de forma geral, seria recebido. Mas segundo o dito popular, “quando se perdem os dentes, Deus nos alarga a garganta”.
Cabrália, seu povo e, por conseqüência, seu comércio, sentiam claramente os bons ventos do progresso.