No ano de 1873 o padre Francisco José Seródio da Província de Santa Cruz do Rio Pardo realizou um censo demográfico e constatou que Tupá tinha 3629 habitantes. As edificações eram todas de madeira e as nascentes das minas foram decoradas com pedras até chegarem ao ribeirão São Domingos,dando assim a Tupá uma arquitetura invejável aos padrões da época.Apesar de uma prosperidade eminente,Tupá,seus habitantes e a igreja católica tinham um problema em comum.Os índios Oti-Xavantes que ora corrompidos se mostravam amigáveis e fiéis quanto a ocupação do homem branco,outrora cada vez mais encurralados dentro de seu território que a cada dia ficava menor se tornavam arredios e violentos.
A fama de Tupá se espalhava por várias regiões e a colonização chegava em ritmo acelerado e junto com ela a grilagem das terras indígenas cuja a legislação na época não as protegia,prevalecendo a lei dos mais forte.
Um grupo de colonizadores trabalhavam na retirada de toras de perobas a alguns quilômetros da sede de Tupá. Saiam de carro de boi bem de manhã e durante o dia os bois serviam na movimentação das toras.A tardezinha chegavam a Tupá e desde aquela época já era comum a passadinha na venda,conversar com os amigos e tirar a poeira da garganta com uma boa cachaça. Os Oti-Xavantes durante décadas estavam sendo estimulados a se confrontarem com os Caigangues que por sua vez também eram estimulados a confrontarem com os Oti-Xavantes pelos colonizadores de sua região.A demora para perceberem que lutavam contra si próprios em vão e que estes confrontos só interessava aos colonizadores acabou por enfraquecer as duas tribos e a revolta era nítida no olhar de todo índio.
O pequeno comércio já estava cheio de colonizadores em mais um final de tarde em Tupá e ao longe se ouvia o sinal sonoro típico dos carros de boi dos cortadores de madeira em seu regresso.
Quando avistado se percebeu que o carro não tinha condutor e os bois atraídos pela querência (querência é um termo usado no meio rural que quer dizer: amor ou saudade do lugar. Querência foi também o nome atribuído até nos dias atuais a uma grande fazenda próxima de onde o fato aconteceu) retornaram sozinhos. Ao se aproximar do carro percebeu-se então a dimensão da tragédia. Junto com a madeira estavam os corpos dos trabalhadores com ferimentos típicos de ataque indígena.
Com frieza poderia pairar a indagação no ar se a chacina não poderia ter sido feita por homens brancos e atribuída aos índios buscando a perfeição do crime.Porém a revolta age de maneira mais voraz que a razão e estava então decretada a guerra contra os Oti-Xavantes em uma verdadeira cruzada caipira.Diante da superioridade numérica e bélica dos colonizadores não demorou muito tempo para o total estermínio dos Oti-Xavantes e seus corpos como troféus enterrados em valas comuns no cemitério de Tupá.
Aos poucos a vida parecia voltar ao normal mas a razão do desaparecimento de Tupá ainda estava por vir. O padre responsável pela paróquia era Andrêa Barra uma pessoa respeitada e querida por todos. Aquela época a figura do padre era de imensa importância a ponto de raramente se tomar alguma decisão sem seu conselho ,o que o tornava uma figura familiar e suas visitas nos lares comuns e freqüentes.
Certo dia um italiano morador de Tupá chega do trabalho e entra em sua casa e no interior da residência de madeira o italiano encontra o padre onde se da início a uma acirrada discussão. Ouve-se um disparo de arma de fogo. Populares que estavam próximos ao local correm até a residência e pasmam com o acontecido,o padre Andrêa Barra está morto.O italiano alega motivos pacionais para o crime.O cemitério de Tupá quase todo ocupado por índios Oti-Xavantes sepultados,ficaria pequeno diante do número de pessoas que participariam do enterro do padre.O desabafo de outro padre vindo de outra localidade mudaria para sempre o destino de Tupá. Não seria abençoado por Deus um lugar em que um padre é assassinado.Daí por diante todos os acontecimentos negativos de Tupá eram atribuídos ao epsódio e o desabafo do padre visto como profecia. As famílias amendrontadas começaram então a se mudar de Tupá de maneira que em pouco tempo o lugar parecia uma cidade fantasma.Aos poucos as casas de madeira iam sendo removidas e a extinção de Tupá estava decretada.
Com os antigos e legítimos ocupantes da terra os índios Oti-Xavantes dizimados e sem a presença dos colonizadores a região de Tupá ironicamente se transforma em um grande vazio geográfico.
Com o desaparecimento de Tupá novos vilarejos começavam a se formar pela região e na última década do século XIX a colonização já havia fincado sua bandeira em Agudos e Piratinga.Alavancados pela cafeicultura o desbravamento de nossa região ganhava força quando em 1905 os trilhos da noroeste do Brasil chegam a Santa Cruz dos Inocentes, o primeiro nome dado a cidade de Piratininga,que seria elevada a munucípio o em 1913.
Em torno de 1915 dois imigrantes europeus o português Manoel Francisco do Nascimento e o italiano Antonio Consalter(a denominação Longo viria depois devido ter grande estatura) adquirindo grande quantidade de terras da família do coronel Virgílio Rodrigues Alves chegam a Cabrália Paulista. As terras de Manoel Francisco do Nascimento era toda a vastidão territorial da margem direita do rio Alambari para quem desce o rio e o lado esquerdo era de Antonio Consalter Longo até onde hoje está o município de Paulistânia.
As picadas na mata densa era o caminho que levava a região de Cabrália até Agudos e Piratininga,as únicas portas para a civilização naquela época.
Antonio Consalter Longo então resolve doar 22 alqueires a diocese de Botucatu na forma de aforamento de datas a fim de incentivar a nossa colonização já que toda a região ainda continuava com sua vegetação original e uma permanência solitária diante da hostilidade da floresta seria certamente uma sentença de morte.
Em 1920 a igreja católica inaugura uma capela de alvenaria onde nos dias atuais estão as escadarias da praça Antonio Pereira em louvor ao senhor Bom Jesus do Mirante.Denominação dada devido a cadeia montanhosa de Agudos que passa também por Piratininga,caminho obrigatório para se chegar em Cabrália aquela época.
Ao redor da capela de alvenaria se formando o patrimônio bom Jesus do Mirante através de lotes cedidos pela igreja.A decisão de Antonio Consalter Longo em doar os terrenos para a igreja estava dando certo.Rapidamente construções de alvenaria começaram a surgir em volta da igrejinha.Por sua vez os dois fundadores vendiam glebas de terras as muitas famílias que por aqui chegavam atraídas pela vastidão territorial,madeira de lei em abundância e terras fertéis. As terras recém desmatadas produziam safras recordes,de coloração vermelha exuberante,enchia os olhos dos colonizadores.Porém o que poucos sabiam,era que nossa formação geológica fazia com que o solo fosse pouco resistente ao efeito das chuvas que a transformava rapidamente em areia. Semelhante ao solo de grande parte de florestas tropicais o solo é rico apenas com sua vegetação nativa e se enfraquece quando se torna nu. O efeito das chuvas fazia com que voçorocas também fossem aparecendo e após o enfraquecimento do solo ao invés da regeneração das espécies que predominavam anteriormente outras de crescimento mais rápido iam aparecendo. Começava então a se formar os campos de gabiroba e barba timão no lugar que outrora estavam as madeiras de lei. Desmatava-se outras glebas e novas safras excelentes viriam e novos campos de cerrado iam aparecendo após o abandono das culturas agrícolas. A peroba rosa em espécie era considerada o ouro das florestas e em Cabrália existia em grande quantidade e apesar da vastidão territorial sua extração aos poucos ia mudando o perfil da flora da região.
Em 1922 pela lei 1893 o patrimônio Bom Jesus do Mirante,torna-se distrito do mirante município de Piratininga e no início de 1924 começa a ser servido pela linha férrea onde é construído o prédio que receberia a denominação de Estação Cabrália.
Com a chegada da ferrovia a colonização do futuro município se acelerou de maneira significativa e casas comerciais começavam a surgir.
Antonio Consalter Longo e sua mulher eram italianos e fixaram seu domicílio em uma grande construção de alvenaria próximo de onde nos dias atuais está o prédio da prefeitura municipal de Cabrália Paulista. Era um homem com visão política o que explica o lado esquerdo do rio Alambari ter se urbanizado. Para a ferrovia seria mais viável o curso dos trilhos seguirem pelo lado direito do rio o que evitaria a construção de um pontilhão para chegar até Duartina. Porém o distrito do Mirante já estava formado o que obrigou a condução da malha ferroviária até ele.
Manoel Francisco do Nascimento fixou seu domicílio em área rural do distrito do Mirante já que suas terras ficaram fora do que seria o perímetro urbano mais precisamente a esquerda da foz do rio Preto afluente do Alambari.Era homem de hábitos simples e sua esposa descendente indígena,provavelmente de etnia Oti-Xavante ou Caigangue que estiveram mais próximas.
O atual cemitério de Cabrália Paulista seria inaugurado em 1926 e não existe inscrições de sepultamento da família de Manoel Francisco do Nascimento o que leva a crer que o casal faleceu antes desta data e provavelmente foram sepultados no antigo cemitério de Cabrália que ficava mais adiante do atual, pouco alem da a Água da Jacuba ou então em sua própria propriedade, naquela época era comum as pessoas serem sepultadas próximas de suas residências.
Manoel Francisco do Nascimento não tinha nenhum parentesco com o comerciante Manoel Francisco que viria depois, tendo os dois seus nomes perpetuados em vias públicas da cidade de Cabralia Paulista.
Os filhos de Manoel Francisco do Nascimento após a morte de seus pais venderam o restante de suas terras e se mudaram para a região de Lucianópolis e nada mais soube-se deles.
Fato curioso que deve ser destacado foi quando a esposa de Manoel Francisco do Nascimento, que provavelmente já era viúva, avistou a locomotiva “Maria Fumaça” pela primeira vez se embrenhou mata afora com medo do “grande cavalo de ferro que fuma”.
A história indígena no continente americano mostra uma imposição do homem branco invadindo o território e ditando o ritmo da colonização, mudando o rumo de uma cultura milenar que harmoniosamente com o ecossistema, sobreviviam como qualquer outra espécie.
A resposta ditada pelo cacique norte americano Seatle em 1854 a um mensageiro do presidente daquele país que insistia para que os índios desocupassem a área onde viviam mostra claramente esta realidade.
“ A CARTA COMPLETA DO CACIQUE SEATLE”
SEATLE 1854
No ano de 1928 o distrito do Mirante impressionava pelo seu crescimento rápido a ponto da empresa comercial de propaganda Brasil Sp fazer o seguinte comentário”Todo município de Piratininga é riquíssimo ,mas a perola desse município é o distrito do Mirante,com lavouras novíssimas,em franca prosperidade,pertencentes á agricultores competentes,terras muito boas e produtivas. Situa-se a 28 km da sede em um lindo planalto. A montanha era o caminho para se chegar ao distrito do Mirante mas por ironia do destino no distrito do Mirante não existia montanhas, ficava em um planalto.
Apitava mais uma vez o trem chegando á estação ferroviária de Piratininga.Pessoas desciam a perguntar onde ficava o distrito do Mirante e eram informados que ficava bem depois daquele mirante(cadeia de montanhas existentes em Piratininga).Voltavam para o trem que os levariam a 28 km adiante.Mal sabiam que a altitude média do lugar que iriam era de 511 metros em um planalto.