quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Mirante sem Montanhas: Parte Final

Era manhã ensolarada de domingo do dia 27 de novembro de 1977 quando o grupo de crianças cabralienses posou para uma foto após a missa na qual receberam a primeira eucaristia. Muitas águas passaram pelas barrancas do nosso querido Rio Alambari daquele dia até os atuais. O rio nem parece ser mais o mesmo sem suas curvas naturais e vazantes que formavam as lagoas, a água corre mais rápido, o tornando mais estreito e mais raso, devido também aos desmatamentos que provocaram seu assoreamento. Sem que percebessem, os rostinhos inocentes das crianças também foram mudando dia após dia. Cresceram e se tornaram moças e moços. FOTO: Crianças cabralienses que acabaram de receber a 1ª eucaristia no ano de 1977.

Muitos se casaram, tiveram filhos, mas ninguém se safou da força do tempo que transformou todos em homens e mulheres adultos, base da população economicamente ativa do município, estado e federação.

Não se deve entristecer quando o espelho começa a mostrar as primeiras rugas e fios de cabelos brancos. É à custa dessas conseqüências que vivemos. Estávamos no primeiro ano de gestão de José Madrigal Ruda, que iria de 01/01/1977 à 31/12/1982. A vicinal que liga Cabrália à Rodovia SP 225 estava sendo pavimentada e no período dessa administração seria construída a atual Rodovia pavimentada que liga Cabrália à Duartina. Cabrália teria seu primeiro bairro urbano com a construção pelo Programa Estadual “Nosso Teto”, do Núcleo Habitacional Antonia Orlato Madrigal I. Parte da Rua Francisco Bueno dos Reis também receberia pavimentação e iluminação do canteiro central.

A gestão de Nelson Gebara, de 01/01/1983 a 31/12/1988, surpreenderia muita gente pelo grande número de obras realizadas: construção do prédio da Prefeitura e Câmara, calçadão e piscina pública que, futuramente receberia a denominação de Centro Poliesportivo João de Oliveira (Juca) e algumas vias públicas receberiam pavimentação. O cerrado à direita do caminho do cemitério daria lugar ao Jardim Nova Mirante, com construção e loteamento realizados por empresa privada. Atraídas por quantidade de reflorestamento, o que propiciava fartura de madeira na região, as indústrias do setor foram se instalando no município, gerando grande número de mão-de-obra e colocando Cabrália como referência no seguimento madeireiro.

José Madrigal Ruda volta à prefeitura para seu segundo mandato, de 01/01/1989 à 31/12/1992. Surge o maior núcleo habitacional de Cabrália , obra realizada pela CDHU (Cabrália A), denominado Antônia Orlato Madrigal II. Parte da estrada vicinal que liga Cabrália à Floresta é pavimentada. Muitas ruas de Cabrália também recebem pavimento, mas necessitariam de grandes reparos nas próximas administrações.

Luis Lourenço Filho, com mandato de 01/01/1993 a 31/12/1996, toma posse como prefeito, melhora a remuneração dos servidores públicos municipais e cria o Departamento de Assistência Social. Investe nas estradas rurais e as melhora significativamente. Através do deputado federal José Habraão (ex-morador de Cabrália), firma convênio para construção do Núcleo Habitar Brasil. A partir da segunda metade da administração passaria por turbulências em um governo marcado por desarmonia entre o executivo e o legislativo, além de denúncias de irregularidades.

Wilson Antonio Vicentini toma posse em 01/01/1997, com mandato até 31/12/2000. Constrói o Núcleo Habitacional Habitar Brasil, priorizando o assentamento dos moradores da Colônia Fepasa e do Conjunto de casas de madeira, de frente à Rua dos Ferroviários, que é demolido. O Ginásio de Esportes, no final da Rua Francisco Krall, é construído., porém, não é inaugurado por detalhes de acabamento. São realizadas obras de pavimentação e recapeamento em alguns bairros. Na área da educação constrói o prédio da EMEI Maria de Jesus Pereira Camponês. Teria um governo marcado por forte investimento na área social, mas com denúncias de irregularidades.

Nelson Gebara (01/01/2001 – 31/12/2004) volta a ocupar a cadeira maior do município quase 20 anos depois. Não consegue repetir o mesmo governo biônico que havia marcado o seu primeiro mandato. Cria o projeto que municipaliza a educação de ensino básico e investe em melhorias das condições de coleta de lixo. Terceiriza o abastecimento de água e esgoto, tomando assim uma medida impopular, mas necessária devido aos maus costumes da época.

Jacintho Zanoni Fillho vence a eleição que teve o maior número de concorrentes (6) em toda a história do município. Com mandato de 01/01/2005 à 31/12/2008, surpreende muita gente em um governo cheio de realizações e convênios muito importantes para a municipalidade, como a Estação de Tratamento de Esgoto (uma de suas maiores conquistas), constrói o Núcleo Habitacional Jacintho Zanoni (Cabrália B) em parceria com a CDHU e mutuários, reforma muitos locais públicos em péssimo estado, como o Mirante Club e o Estádio José Ghinelli, e termina a obra do Ginásio de Esportes na Rua Francisco Krall, que é inaugurado. Grande parte das vias públicas é pavimentada e recapeada. Na área da educação constrói o prédio da EMEF. É reeleito com mandato previsto para o período de 01/01/2009 à 31/12/2012. No país o regime militar deu lugar à democracia. A constituição de 1988 mudou os rumos e costumes da nação. O capitalismo perde espaço para os ideais socialistas e os partidos políticos de esquerda crescem.

Na economia o cruzeiro torna-se cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo e novamente cruzeiro. Criam a URV até a estabilização da moeda chamada real. Não seria fácil a adaptação da ciranda financeira de mega inflação, momentos de deflação e estabilidade recessiva. Potências econômicas sucumbiram, dando lugar aos emergentes. Outras religiões foram difundidas e cresceram, diminuindo a hegemonia católica. A tecnologia e o mundo digital mudaram os hábitos da população do planeta. Os índices de criminalidade aumentam juntamente com o narcotráfico.

A perda de valores familiares e a falta de paternidade se tornam fatores preocupantes. Assim como centenas de municípios de pequeno porte que se tornam a maioria, distribuídos pela federação, Cabrália Paulista se desenvolve lentamente. Meios de comunicação distintos e respeitados divulgaram recentemente o resultado de um estudo sobre economia, desenvolvimento urbano e futuro da humanidade. Segundos dados de pesquisas, o futuro da humanidade é urbano e a tendência é que a população se aglomere cada vez mais em grandes metrópoles. No Brasil a previsão é que capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, entre outras, tenham um crescimento populacional surpreendente nas próximas décadas, chegando a ficarem intransitáveis se medidas sérias não forem tomadas. O direito de ir e vir se tornaria inviável (seria parcialmente banido do cidadão). O estudo também apontou uma estabilidade econômica e demográfica para os pequenos municípios, como Cabrália. Obviamente que fatores isolados farão de alguns pequenos municípios brasileiros, raras exceções, sendo os dados estatísticos uma tendência e não uma uniformidade. O estudo apontou ainda que a renda per capita seria menor nas pequenas cidades, o que culmina com maior índice de pobreza.

Nos primeiros capítulos dessa história vimos que Cabrália foi projetada para ser cidade grande. O destino não quis. A qualidade de vida, ao invés da quantidade populacional certamente será o bem aventurado caminho dos pequenos municípios, à exemplo de Moisés em busca da terra prometida. A água potável se torna mais escassa a cada ano no planeta e se torna uma das maiores preocupações para o futuro da humanidade. Nossa região está sobre o Aquífero Guarani, o maior reservatório natural de água doce do mundo. Cabrália Paulista é um dos municípios onde o lençol do aqüífero se apresenta em menor profundidade. Por isso, a preservação de nossos recursos naturais deve ter um sentido maior perante outros fatores de menor relevância, afinal “a água viva ainda está na fonte”. Fica a grande incerteza, preocupação e desafio se as próximas gerações de cabralienses conseguirão se manter no município onde, apesar de todas as dificuldades, a maioria das crianças da geração anterior conseguiu. Esta coluna conseguiu contar parte de uma história com menos de 100 anos.

FOTO: Cristo redentor do principal trevo de entrada de Cabrália Paulista.

Considerando que existem países de cultura milenar e que o planeta terra também tem cerca de quatro bilhões e meio de anos, temos muito a caminhar. A mensagem que o narrador dessa história deixa ao povo de Cabrália, que são os verdadeiros autores dela (já que foi contada por eles), é a mesma estampada no pedestal do Cristo Redentor na entrada de nossa cidade: “Cristo, filho de Deus, seu olhar e sua benção sobre Cabrália, seu povo e visitantes”.


Os irmãos Garbulio, proprietários do Supermercado Vitória se aposentariam e venderiam a loja na próxima década. O caçula dos irmãos abriria um mercadinho na esquina diagonal com o Jardim Municipal e também se aposentaria em breve. Seu filho mais velho (que aparece como sanfoneirinho no capítulo 12 é também um dos meninos da primeira fila na foto da eucaristia), na época já maior de idade, resolve continuar com o negócio.


FOTO: Placa com mensagem fixada no pedestal do Cristo Redentor.

No ano de 1988 o mercadinho muda de endereço para a Rua Antonio Moreno Garrido Sobrinho, onde permanece até os dias atuais. Já se vão 24 anos somente da 3ª geração de comerciantes da família. No ano de 2010, a família Garbulio completou 60 anos distribuídos em três gerações de contato comercial direto, junto à Cabrália e seu povo. Ainda ficou muita história para contar.

Um comentário:

  1. Vejo a foto da molecadinha acima,em 1977 não haviam smartphones,whatzap,Facebook,internet era restrita há alguns quartéis,PCs quase não existia,mas pelo menos naquele tempo o tráfico de drogas era muito menor que hoje,as crianças tinham mais respeito pelos mais velhos,país eram mais rígidos com as crianças.
    Contudo a foto foi tirada num período obscuro em que muitas pessoas deixavam Cabrália devido a desativação da Ferrovia,coisa que mesmo 40 anos depois,Cabrália nunca superou enquanto Duartina e Piratininga superaram a ausência da Ferrovia.

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