terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Mirante sem Montanhas: Parte 14

O prefeito Benedito de Almeida Teixeira conduzia com cautela a administração, restando apenas poucos meses para o término do mandato. Chegava então a época de uma sucessão democrática que seria acirrada entre as partes.

O candidato da oposição, representado por Osney Martins Sampaio (ARENA) e forte bancada legislativa se apresentava como favorito na disputa. Porém, o candidato que representava o partido da situação (MDB) era o respeitadíssimo político Zeca Pereira, que em uma arrancada fantástica nos últimos meses de campanha iguala a disputa em uma campanha cheia de denúncias de infidelidade partidária por parte dos vereadores que teoricamente representavam a oposição. Uma ocorrência muito triste ocorreria às vésperas do pleito eleitoral. O falecimento da mãe do candidato Zeca Pereira deixa toda Cabrália enlutada. Sua bondade e carisma transformaram-na numa pessoa querida por todos.

FOTO: Zeca Pereira e Toninho Ghinelli sendo diplomados prefeito (3º mandato) e vice respectivamente

No dia seguinte a população entristecida cumpre o dever cívico e elege Zeca Pereira para seu terceiro mandato como prefeito do município.


Seu irmão Antonio Geraldo Pereira, que era candidato a vereador tem votação recorde (ainda não quebrado até os dias atuais). O vice de Zeca Pereira nesta administração foi Domênico Antonio Ghinelli. No passado, nos tempos de Jânio e Ademar, teriam sido opositores. E a 7ª Legislatura do município, com o mandato de 01/01/1973 à 31/12/1976, ficou assim composta:
- Anízio Vilani;
- Antonio Geraldo Pereira;
- Antonio Vaz de Lima;
- Benedito Rocha;
- Carlos Teixeira;
- Flávio dos Santos Camponêz;
- Guido Aparecido Branco;
- Joaquim Rodrigues Andrade;
- Rubens Carlos Pimentel.

Neste pleito tivemos um fato inédito no que se diz respeito à eleição proporcional. Todos os cinco vereadores do Partido da ARENA foram eleitos e pelo coeficiente eleitoral somente um do MDB. Faltaram três cadeiras para completar o nº de vereadores e foi necessária a realização de outra eleição somente para vereador.
Em 7 de maio de 1975, o vereador Flávio dos Santos Camponês faleceria vítima de um trágico acidente de trânsito. Em seu lugar assumiria o suplente Alceu Ferreira.
Em seu terceiro mandato como prefeito de Cabrália, beneficiado pelo aumento da arrecadação devido às empresas que aqui se instalaram, Zeca Pereira consegue maior harmonia para as finanças, equilibrando receita e despesa em suas novas construções que se iniciavam.

O campo de futebol naquela época era totalmente aberto e de terra batida. Em sua volta existiam vários pés de eucaliptos que eram da mesma espécie e idade dos que tinham na estrada chamada “Caminho do Cemitério”, hoje chamada “Avenida da Saudade”. A prefeitura municipal constrói então toda a estrutura do novo estádio que receberia o nome de José Ghinelli. Sua arquibancada receberia a denominação de “Solar do Caneta”, em homenagem a Alcidez Alves Ferreira (Caneta), voluntário no esporte, músico, jogador e torcedor assíduo do velho campo de terra batida. Ainda na área esportiva, foi construída a Quadra Poliesportiva atrás do Mirante Clube, à qual foi dado o nome de Maria Cecília Pereira, irmã do prefeito, que também faleceu tragicamente em outro acidente de trânsito. No mesmo quarteirão, e na mesma época foram também construídas as laterais do Mirante Clube, que até então tinha apenas o seu “corpo central”. Através de convênio com o estado, foi construído também neste mandato o prédio do centro de saúde.

FOTO: Time do Guarani FC de Cabrália no campo de futebol antes do início das obras. (Em pé: Osvaldo, Benjamin, Mario Caneta, Dito Sacoman e Mané Duarte. Agachados: Nino, Alcides, Tulin, Juca, Cesar e Pelé)

A prefeitura realizava também a pavimentação das Ruas Antonio Consalter Longo e Joaquim dos Santos Camponês, e coloca paralelepípedos nas paralelas entre ambas. Pavimentaria também parte das ruas Astor de Mattos Carvalho, Seis de Agosto e Manoel Francisco, pavimentações que foram cobradas dos moradores.

Dava-se continuidade ao projeto já desenvolvido no segundo mandato de Zeca Pereira d constuções civis, onde muitas casas de alvenaria foram construídas, ajudando a vida de munícipes. Vivíamos em uma época que o êxodo rural estava acontecendo em grande quantidade e as casas de madeira da zona rural estavam ficando vazias, o que deixava o custo da construção dessas casas de madeira infinitamente inferior ao da alvenaria. O prefeito do município tem então a idéia de alargar uma vilela e denominá-la de Rua dos Ferroviários em justa homenagem a todos os ferroviários que ajudaram na colonização do município (sendo que estava previsto que a Ferrovia encerraria suas atividades em breve). No quarteirão em frente a esta rua o prefeito constrói um conjunto de casas de madeira para o assentamento de diversas famílias cabralienses. Foi um “prato cheio” para seus opositores, que apelidaram o local de “Vila dos porcos” e assim ficou popularmente conhecida. Porém, o conjunto de casas de madeira não serviria somente para denegrir a imagem política do grupo que as construiu, mas também como lar de diversas famílias que ali residiram por quase três décadas. A “Vila dos Porcos”, como ficou vulgarmente conhecida, foi extinta na segunda metade dos anos 90, com a criação do Conjunto Habitar Brasil Luis Lourenço Filho.

Entraremos agora em mais um momento triste de nossa história. A Ferrovia anuncia o final de suas atividades na região, fato que futuramente aconteceria em outras regiões, em âmbito nacional, mostrando assim sua inviabilidade.
Já estávamos no final do terceiro mandato de Zeca Pereira e o prefeito contrata uma banda musical do próprio município, que voluntariamente fazia shows no coreto do jardim, alegrando nosso povo nas noites de final de semana em última homenagem à ferrovia. Ao fim do som da banda musical e do barulho característico dos trens quando passam, o que fica é um silêncio preocupante, que poderia ser visto nos olhos de todos que ali estavam. Vivenciaram ali um verdadeiro divisor de águas para o futuro não somente de Cabrália, mas para todas as estações onde o trem passava.

A oposição culpou Zeca Pereira pelo fim da Ferrovia, alegando que a banda musical estaria ali para festejar e não para homenagear. O episódio da fábrica de cerveja, que já foi relatado em capítulos anteriores, na administração de Francisco Bueno dos Reis (no qual nenhum cabraliense teve culpa), seria novamente lembrado, mas com versão distorcida, culpando o grupo político de Zeca Pereira pelo acontecido. Uma mentira contada várias vezes, por diversas pessoas, se transformava em verdade.


Desta vez não se encerrava somente um mandato, terminava a era do domínio político de Zeca Pereira e consequentemente daqueles que o apoiavam. Iniciava-se a predominância política de José Madrigal Ruda e seus correligionários do forte grupo político que se formava nesta época (interrompido provisoriamente pelo mandato de 1993 a 1996, com a vitória do opositor Luis Lourenço Filho).

foto: "José Pascon Rocha"
FOTO: O último trem que passou pela estação de Cabrália deixou a população triste e preocupada.

O regime militar imperava no Brasil. No município novas formas de governo seriam implantadas. O regime capitalista prevalecia na América.

Outra medida infeliz por parte do estado prejudicaria os recursos naturais do município neste período transitório. Seria a presença da Draga (máquina de esteira própria para lugares alagados) para alinhamento e limpeza do Rio Alambarí, com o objetivo de diminuir a intensidade das enchentes e aumentar as áreas cultiváveis. Foi o mesmo que “acabar com o carrapato matando a vaca”. Para o nosso Rio Alambari (Pirajaí, o rio dos peixes cor de prata) foi um desastre ambiental. Ele nunca mais seria o mesmo. Seus poços profundos margeados por inúmeras lagoas, berçário de várias espécies, ficaram somente na memória daqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo.

O Supermercado Vitória, dos irmãos Garbulio, vivia o seu auge. Aliás, Vitória seria a melhor denominação que se poderia dar àquela casa de comércio de uma família cuja história vem sendo descrita desde os primeiros capítulos desta coluna. Há quase 30 anos no ramo do comércio na cidade, mal sabiam que a relação comercial da família com o povo cabraliense ainda não tinha atingido a metade de seu período.

Um comentário:

  1. A ferrovia acabou em Cabralia não por razões politicas, mas por 2 motivos: a precariedade da linha antiga de Bauru a Garça com curvas inviáveis para as novas locomotivas, além do percurso muito maior e acidentado, e por causa da falta de vis"ao dos governantes, que pdoeriam ter deixado a linha para trens regionais entre as cidades já decadentes, mantendo a linha nova como principal.

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